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As Barreiras Jurídicas para a Expansão da Inteligência Artificial no Direito

Inteligência Artificial no Direito
Inteligência Artificial no Direito

A expansão da Inteligência Artificial (IA) no Direito enfrenta diversas barreiras jurídicas, apesar de seu enorme potencial para transformar o sistema legal. Entre os principais desafios, encontram-se questões de regulamentação, responsabilidade e a necessidade de adaptar as leis vigentes à aplicação da IA.

  1. Falta de Regulamentação Específica: Até o momento, a legislação ainda não evoluiu o suficiente para abordar diretamente o uso de IA no campo jurídico. Muitos países ainda carecem de leis claras que orientem como tratar decisões tomadas por IA, o que gera uma série de incertezas. Por isso, as autoridades precisam definir até que ponto a IA pode atuar em atividades decisórias ou práticas legais, como análise de dados e automação de processos.
  2. Responsabilidade Legal: Determinar a responsabilidade por ações ou decisões de sistemas de IA é um dos maiores desafios. Quem responde, por exemplo, por um erro jurídico cometido por um algoritmo? A ausência de definições claras sobre a responsabilidade em caso de falhas ou danos cria uma barreira significativa para a expansão da IA no Direito, especialmente em áreas sensíveis, como a administração da justiça.

Muitas IAs, especialmente aquelas baseadas em aprendizado profundo (Deep Learning), operam como “caixas-pretas”, dificultando a explicação ou justificativa de suas decisões. Esse fator contraria princípios jurídicos fundamentais, que exigem clareza e transparência nos processos decisórios. Sem garantir que alguém compreenda e conteste uma decisão automatizada, o uso de IA no Direito enfrenta sérios questionamentos éticos e de accountability.

Accountability é a responsabilidade que uma pessoa, organização ou entidade tem de prestar contas por suas ações e decisões. Esse conceito vai além da responsabilidade legal. Ele envolve transparência, ética e a obrigação de justificar os resultados das próprias ações, especialmente quando afetam outras pessoas ou o interesse público. No campo jurídico, accountability é essencial para assegurar que tomadores de decisão assumam os impactos de suas escolhas. No mundo corporativo, accountability ajuda a manter a confiança e a integridade das práticas empresariais.

  1. Proteção de Dados e Privacidade: Com a crescente utilização de IA, aumentam também as preocupações sobre como os dados pessoais são coletados e processados. Leis como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil e o GDPR na União Europeia estabelecem limites rígidos para o uso de dados. Esses limites, portanto, podem restringir o uso de IA em análises jurídicas, especialmente no que diz respeito à coleta, processamento e armazenamento de informações sensíveis.

A implementação de IA em escritórios de advocacia, tribunais e setores públicos pode, por sua vez, gerar uma disparidade entre aqueles que possuem recursos para adotar a tecnologia e aqueles que não têm essa capacidade. Como resultado, essa desigualdade tende a aprofundar a diferença no acesso à justiça, já que nem todos terão as mesmas ferramentas tecnológicas para interpretar e lidar eficazmente com decisões automatizadas.

  1. Ética e Decisões Automatizadas: A introdução da IA no Direito levanta, ainda, preocupações éticas relacionadas à imparcialidade e justiça. Se os algoritmos forem treinados com dados preconceituosos ou tendenciosos, existe o risco de que a IA perpetue ou até amplie essas distorções, impactando negativamente a equidade nas decisões judiciais.
  2. Compliance e Regulamentação: Finalmente, a expansão da IA no Direito enfrenta um dos maiores desafios: cumprir as regras de compliance e atender às regulamentações específicas do setor. Para alcançar esse objetivo, as empresas precisam assegurar que suas práticas envolvendo IA estejam plenamente alinhadas com normas nacionais e internacionais de proteção de dados, transparência e ética. Quando as exigências de compliance não são atendidas, o uso de IA acaba sendo limitado em determinados ambientes jurídicos. Nesses casos, torna-se fundamental que todas as operações respeitem os parâmetros legais e regulatórios vigentes, garantindo, assim, segurança e conformidade jurídica.

O Papel da Inteligência Artificial no Direito para Combater Haters e Crimes Cibernéticos

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Cyro Luiz Pestana Púperi

Juiz de Direito Aposentado – Advogado – Sócio Fundador do Escritório de Advocacia Púperi, Dutra e Moschem Advogados – Atuante na Área do Direito há mais de 40 anos – Palestrante – Escritor – Entusiasmado por Tecnologia e Evolução Tecnológica – Especialista em Direito Civil – Pós- Graduando em Direito Empresarial e LGPD – Cursando especialização em Legal Operation: Dados, Inteligência Artificial e Alta Performance Jurídica na PUC do Paraná - Participou de vários cursos nas áreas de Legal Design e Visual Law.